Posicionamento da Redalyc compartilhada na Consulta Regional sobre a Recomendação em Ciência Aberta da UNESCO-América Latina e o Caribe
Apresentado por Arianna Becerril García
O sistema de comunicação científica mundial tem demonstrado pouco sucesso em tornar a ciência uma conversação global, participativa, equitativa e inclusiva. A chamada “Ciência de corrente principal” (Mainstream) tem se caracterizado como um meio onde as editoriais comerciais têm encarecido e restringido historicamente o acesso à ciência, além de terem sido juiz e parte num sistema onde suas publicações estão mais bem posicionadas pelos sistemas de prestígio que criaram.
Hoje, o Acesso Aberto (AA) está consolidando o problema que, supostamente, deveria combater. Devemos alertar nossos países que um novo panorama de exclusão está-se gerando aceleradamente. O acesso aberto comercial, caracterizado pelo traslado das cobranças por ler aos cobros por publicar, não só está enraizando a exclusão dos países com menos recursos, como também a sistematiza.
A América Latina tem mostrado que o setor acadêmico pode segurar não só a geração de conhecimento, mas também sua difusão, em um sistema que tem como base a cooperação, característica intrínseca ao âmbito acadêmico e de pesquisa.
Para a Redalyc, a ciência deve ser um bem público e o acesso a ela, um direito universal. Por isso, dirige seus esforços no fortalecimento do modelo de publicação propriedade da acadêmia, com a visão de as tecnologias atuais contribuírem à sustentabilidade do AA.
O AA não comercial não tem futuro sem a evolução dos sistemas de avaliação, os quais, em muitos países, estão adotando estratégias onde os periódicos científicos editados pelas suas instituições têm uma desvantagem clara, dado que seus canais de circulação e meios de legitimação são considerados regionais ou periféricos. Assim, os pesquisadores estão sendo direcionados a publicar em um sistema insustentável, abandonando a publicação ancorada no setor acadêmico e as plataformas não comerciais, as quais constituem um ecossistema inerentemente aberto que precisa ser fortalecido, mas acima de tudo, reavaliado.
A consolidação do AA também demanda a transição tecnológica e todo seu potencial, por meio da web semântica ou a Inteligência Artificial, para alcançar uma visibilidade orgânica fora dos canais proprietários e para fornecer à ciência publicada as capacidades para ser inserida na base da inteligência coletiva possibilitada pela Web.
Os mecanismos de propriedade intelectual devem ser desenvolvidos para entender o fenômeno de liberar o conhecimento com fins comerciais em um contexto de iniquidade, onde aqueles com maior concentração de recursos são também aqueles que têm maior capacidade de exploração, obtendo do setor acadêmico recursos substanciais para fortalecer o ensino e a pesquisa.
As soluções jurídicas, técnicas e econômicas que possam ser desenhadas no espectro da Ciência Aberta deverão ser contundentes para permitir ao setor acadêmico o controle da circulação do seu principal ativo: o conhecimento, pois só o setor acadêmico pode garantir que seu benefício seja dirigido à sociedade, ao desenvolvimento da ciência e ao progresso da humanidade.
Informaçao sobre a Consulta Regional sobre a Recomendação em Ciência Aberta da UNESCO-América Latina e o Caribe, disponível aqui.